alcateia #27, quem sonha em ser herdeira bota o dedo aqui…? #annadelvey
Sendo brutalmente sincera, minha girlboss favorita provavelmente é a Anna Delvey.
(não acredito que preciso avisar isso mas: favor ler com pensamento crítico - contém doses de sarcasmo e acidez)
No dia em que eu fui ver Bling Ring no cinema, deixei meu date esperando na Starbucks por mais tempo do que ele gostaria. “Vai se foder” foi uma das coisas mais gentis que ele disse, e eu sentei na calçada na frente do Banco Safra na Paulista com a Augusta até que algumas pessoas pararam para ver se eu tava bem. “Tá tudo bem”, eu disse, chorando de soluçar. Voltei e vi o filme, assistindo a uma história que acompanhava há anos através de matérias e de um livro controverso.
Eu cresci querendo ter um emprego fixo e uma ascendência astronômica, ter meu nome em expediente de revista (especificamente da Vogue) e em capas de livros. (Pelo menos um deles consegui.) Cresci na era The Hills e O Diabo Veste Prada, e admirava uma chefona cujo livro se chama “Se você precisa chorar, saia da sala”. Era a geração em que a melhor coisa que se podia ter não era um namorado lindo: a grande recompensa da vida era um trabalho legal, e, quando a Lauren Conrad deixou de ir a Paris para passar o verão com o namorado, todo mundo criticou.
Os anos 60 e 70 trouxeram, além de doses cavalares de LSD, a mobilidade social e de gênero, e o casamento dessa fantasia com o poder feminino liberal do começo dos anos 2000 resultou na hashtag mais amada/odiada da internet: #girlboss. Na cultura popular, o sonho de trabalho foi substituído pelo sonho do empreendedor - e o que seria Bling Ring que não a personificação do espírito empreendedor? Meia dúzia de jovens roubando celebridades em busca de dinheiro e popularidade? (Menção honrosa à Elizabeth Holmes - vale ver a série Drop Out e entender como ela construiu uma mentira de 1 bilhão de dólares.)
Eu li duas vezes o polêmico livro que criou esse termo, assim como “Faça acontecer” de Sheryl Sandberg e dezenas - eu disse dezenas - de pseudo-plágios sobre ser mulher no mundo empresarial, e olha no que deu: tudo que ganhei somou dois burnouts e várias crises de ansiedade em várias cidades pelo mundo. (Destaque para os Jardins de Tuileries em Paris e a rua da Grand Central Station em Nova York. Ai, que Serena van der Woodsen.)
Essa vibe de #bossbabe sempre foi ótima para mim, servindo como uma dose de energia que, depois de muito tempo, terapia e autoconhecimento, eu descobri que era apenas uma crise hipomaníaca de uma bipolar tipo 2. E, sendo brutalmente sincera, minha girlboss favorita provavelmente é a Anna Delvey. A gata fingiu ser herdeira alemã, conquistou a elite novaiorquina e conseguiu um empréstimo de mais de 40 milhões para criar uma fundação focada em arte.
Nas palavras de sua então melhor amiga, uma das coisas que fez com que ela parecesse autêntica foi sua escolha de peças de luxo: não eram bolsas da moda que ela carregava, e sim peças comuns como leggings e camisetões. Assim como Kendall Roy de Succession com seu boné de 625 dólares (3 mil reais na cotação de hoje), é a casualidade dos gastos exorbitantes que impressiona. Quer dizer, se você não tem tanto dinheiro, seus gatos extravagantes provavelmente são bem pensados: uma bolsa da Chanel, um sapato Louboutin, um lenço da Hermès. Não uma peça aleatória que passaria despercebida por (quase) qualquer um. E, na sua (muito mais) estratégica escolha, ela convenceu mais do que uma peça da Louis Vuitton, Gucci ou Balenciaga - que, de qualquer jeito, têm perdido o status conforme ficam mais populares.
Mas a ~golpista~ Anna cometeu fraude de uma maneira inovadora - chegou onde nenhuma mulher tinha chegado antes. Um pequeno passo para uma mulher, um passo gigante para a humanidade. Mas o que aconteceria se a Anna tivesse ganhado os 40 milhões? Ela parece inteligente, determinada e competente. Onde estaria sua fundação ADF? Com certeza teria sido um investimento lucrativo. E podemos chamar de fraude os 400k que ela gastou da senhora rica que teve a dívida perdoada por ter contatos poderosos na American Express? Temos tudo quando somos ricos, não é à toa que Anna e o pessoal do Bling Ring quiseram isso a todo custo. É o fake it until you make it elevado à milésima potência.
Apesar de ter passado tempo na prisão, ela usou a fortuna que arrecadou com a série da Netflix para pagar dívidas. Em entrevistas recentes, disse algo como “eu já paguei o que devia, até quando vão querer que eu peça desculpas?” e parece menos arrependida do que o público que gostaria. Em uma entrevista no podcast Call Her Daddy enquanto ainda estava na prisão, ela é confrontada por Alex Cooper (ok, ela é minha girlboss favorita) e seguiu a tendência de parecer ter menos remorso e mais preocupação em reconstruir sua imagem (as fotos em que ela tira o lixo em looks de festa, já que é a única forma de encontrar paparazzis por causa da prisão domiciliar, são icônicas). Aparentemente ela ganhou um reality show - que boa notícia para mim, vou amar.
Mas… as pessoas não dizem pra gente se vestir para o trabalho que a gente quer? Eu quero seguir os passos de Anna e me vestir como herdeira (brincadeirinha). Pessoalmente acho mais agradável do que a ideia de aparecer na Forbes Under 30 - que eu odeio porque nunca me inscrevi e nem ganhei, e já passei da idade de participar. Ah, as dores e delícias de uma girlboss em desconstrução. Como fala aquele tweet viral, menos girlboss e mais girl rest girl sleep girl lay down. Amém.
Eu achei genial quando ela saiu da prisão vendendo nfts e falando em entrevista “eu estou melhor do que vocês”. Hahahaha
Genteeee, eu nao conheço as mulehres desse texto!! Vou caçar pra ja! Ah, e vc escreve MTO bem, como sempre