alcateia #23, sexo com homens mais velhos
Quando somos a parte jovem da relação, sentimos que estamos prontas para esse tipo de dinâmica de poder - que, na nossa percepção, nem é tão desigual assim.
Não quero um menino, quero um homem. Ele é homem de verdade. As frases que elogiam a masculinidade em sua apresentação máxima são muitas, mas, na era ~redpill, qual é o tesão por *homens com H maiúsculo*?
Quando eu tinha 19 ou 20, eu ficava com um cara de 32. Hoje, sou eu que tenho 32, e não consigo entender de onde poderia vir qualquer tipo de interesse em uma pessoa de 20. Amizades, sim. Mas cogitar sexo e intimidades com alguém em uma fase da vida tão diferente - com tantos sonhos, medos, ideias, planos e experiências sob uma perspectiva muito distante - soa violento. Fica pior: com 16, ficava com um cara de 20 e poucos. Com 14, também. Eu era a rainha de ficar com caras mais velhos e acreditava que uau, era muito mais inteligente, interessante, linda… adulta. Ew. *pausa pro emoji de vômito*
Conversando com meu atual namorado (apenas 1 ano mais velho que eu, ufa!), percebi que minha validação em muitos âmbitos foi calcada no olhar masculino. Mesmo em relacionamentos com mulheres, buscava essa validação de outras formas - não românticas ou sexuais - em outros homens. Eu estava, de forma ingênua, contribuindo para a desigualdade da dinâmica de poder entre homens e mulheres. E, mais que tudo, essa dinâmica, essa toxicidade, era vista como prova do meu valor. Como já falei por aqui, quando a sexualidade é sobre performance e não prazer, existe uma desconexão entre ser sexy e o sexo em si.
Isso me veio à mente enquanto ouvia a música 29, em que Demi Lovato canta o refrão: “Finalmente 29 anos - engraçado, exatamente o que você tinha naquela época. Achei que era um sonho adolescente, uma fantasia, mas era sua ou minha? Dezessete e vinte e nove.” No fim da música, o refrão abre diferente: “Finalmente 29 anos, e 17 jamais passaria pela minha cabeça.” Na versão de 10 minutos de All too well, é a vez de Taylor Swift: “Não sou boa em contar piadas, mas a graça é essa: eu vou envelhecer, mas suas namoradas vão ter sempre minha idade.” (A ironia: os dois caras citados seguem namorando garotas pelo menos 10 anos mais novas.)
Perguntei no Instagram se outras mulheres se identificavam (sigam para participar de mais enquetes!!!!). Para cada resposta de “neutro” ou “foi daora”, vinham cinco relatos tristes. “Eu tinha 17 e 25, ele me incentiva a fumar e forçava a transar sem preservativo,” contou uma seguidora anônima. “Um deles era 11 anos mais velho e eu era virgem. Hoje acho que foi estupro,” contou Fernanda Gomes. “Você é tão madura pra sua idade. Eu tinha 16 e ele 40,” contou Julia.
Será que existe um número saudável? Uma fórmula? A diferença entre 13 e 20 não é a mesma de 40 e 47, seja pelas mudanças fisiológicas, pelo momento de vida ou pela percepção temporal. Hoje pensando, eu mergulhei em comportamentos autodestrutivos muito cedo (há quem diga que o câncer vem disso também), e penso que isso pode fazer parte da mesma historinha - eu só não percebia.
Até porque, quando somos a parte mais jovem da relação, não nos sentimos de forma estranha. Sentimos que somos maduras, que sabemos o que estamos fazendo, que estamos prontas para esse tipo de dinâmica de poder - que, na nossa percepção, nem é tão desigual assim. Talvez a parte mais triste de tudo é o impacto que isso pode ter na nossa expressão sexual. Muitas dessas dinâmicas sequestram nosso prazer como medalha: “Hoje percebo que mulher mais nova é um troféu de virilidade,” relatou Bruna Fracascio.
Hoje, com mais de 30, percebo que aquela aura de intelectualidade e experiência era uma ilusão. Criada por ele e comprada por mim ou vice-versa, o deslumbre do sexo com homens mais velhos, no meu caso, não sobreviveu à maturidade cerebral, que comumente encerra em torno dos 25. Obrigada por tudo, córtex pré-frontal!
Me lembrei muito de um relacionamento que eu tive com 19 e meu namorado tinha 27. Foi um momento muito tribulado emocionalmente e psicologicamente pra mim. Comecei a abusar de substâncias, álcool, e tinha uma relação problemática com o sexo, em que achava que o meu empoderamento vinha de aceitar, fazer e participar de dinâmicas de submissão e não da minha capacidade de me enxergar no meu corpo e poder dizer não com segurança.
Carrego até hoje, com 35 anos, muitas feridas desse relacionamento que durou quase 6 anos. Essas dinâmicas de poder podem ser extremamente destrutivas e seu texto me fez compreender muita coisa que eu sinto. Obrigada <3
Me identifiquei ao contrário. 😧 Eu estava com 35 anos quando conheci o Ola, que tinha 22. Acabamos nos apaixonando, mas demorei pra assumi-lo. Eu morria de vergonha (a última temporada da serie “Valéria” traz uma história similar com a qual me identifiquei muito). Enfim, a história vc já sabe. Estamos juntos há 15 anos! Uma loucura. Hoje quase não sinto diferença de idade entre nós. Mas a diferença de ser “a mais velha” sempre surpreendeu as pessoas, justamente porque é sempre o contrário, o que no caso nunca causa espanto. Gostei bastante da sua reflexão. Noto que por aqui (ou mesmo na Suécia) é mais raro ver meninas jovens com caras mais velhos.