alcateia #46, garotas tristes e famintas
Finalmente, eu não me sentia mais uma fraude. Eu era oficialmente tão triste quanto minhas ídolas.
Seis trechos do livro Dead Weight, da maravilhosa Emmeline Clein, que tantas vezes traduz meus sentimentos. Quando falo que sou doida, não vejo como autodepreciativo: vejo como, de certa forma, enriquecedor. Sim, eu tenho problemas psicológicos, e sim, eu to viva, e bem, e alegre, e em paz com uma tristeza que talvez nunca deixe de existir, mas que hoje não é mais uma força paralisante. Nesses trechos, nos espelhamos na visão e intenção de expor a tristeza, tirar do pedestal, pensar em novas formas de vida além dela.
1. Chorando e soluçando, muitos dos ícones mais amados da cultura feminina são muito, muito tristes e muito, muito magras. Elas são bonitas, e sua tristeza só aumenta seu apelo sexual. Lágrimas escorrem pelas bochechas até bocas carnudas, mas essa carnudez nunca se estende ao resto de seus corpos físicos, que tendem a ser extremamente esbeltos. Os corpos encolhem para tamanhos cada vez menores à medida que as garotas tristes perdem o apetite, distraídas por toda a emoção que estão sentindo.
2. Nos livros e nas telas, a garota magra, sexy e triste geralmente gosta de se anestesiar. Se a inconsciência não estiver disponível, ela pode se distrair da dor com uma euforia. Muitas dessas personagens não sobrevivem às suas histórias. Jovens brilhantes se apagam. Todos sabemos o que aconteceu com a série de belas loiras pálidas e adolescentes de As Virgens Suicidas.
3. Garotas tristes vagueiam por suas vidas solitárias, tornando-se amadas apenas na morte. Não parece importar quantas vezes assistimos a esse tipo de garota morrer; não conseguimos aprender a lição, não vamos santificá-las até que se sacrifiquem pela causa.
4. Minha mãe notou a obra de auto-ódio que eu estava esculpindo e me enviou a uma clínica, onde me deram os diagnósticos de "transtorno alimentar", "transtorno de ansiedade" e "depressão". Finalmente, eu não me sentia mais uma fraude. Eu era oficialmente tão triste quanto minhas ídolas e minhas irmãs online.
5. Estou tentando ser honesta aqui: sempre quis viver o tipo de vida que acaba em uma história, mas essas são ficção. Ser minha própria ícone sexy e triste começou a ficar perigoso, então estou tentando algo diferente.
6. Estou tentando remar um bote salva-vidas, e escrever uma carta de amor, e aprender a nadar. Estou escrevendo isso para as garotas vivas escondidas em seus quartos, obcecadas pelas garotas mortas, para as garotas famintas, as garotas sedentas e as garotas escondidas, para as garotas mortas que achavam que a única maneira de serem lembradas era assumindo seu lugar no cânone-cum-mausoléu, para todas as garotas que não estavam erradas e para todas as garotas que estavam.
Para millenials, esse texto deve bater pesado. Anotei na lista (podia sair no br, né?)
é desesperador e reconfortante se identificar. vou enviar pra minha psicóloga.