alcateia #10, quanto vale um influenciador?
Falar sobre influência perpassa um ecossistema complexo. Longe da ambição de abordar tudo, vou pegar apenas um ângulo e mesmo assim a gente tem muita coisa pra conversar, aqui, eu e você.
Olá anjinhos e anjinhas, aqui é a Ismália e esse mais um vídeo da Torre dos Sonhos! - trecho de um conto meu, comissionado pela Carta Capital, e publicado em 2018*
Salvo detalhes, a gente tá bem acostumada a esse padrão de apresentação. Oi goxxxtosas, Oi oi gente, Olá gente tudo bacana, olá pessoas incríveis da internet, olá unicórnios, e aí meus loucões e louconas desse Brasil, olá Hollyweirds, olá Brasil olá você aí de casa. Ufa. Bom, se você conhece os youtubers de cada um desses bordões, você é da primeira geração do YouTube, pode confessar. Essa profissão começou com blogueiras e twitteiros, introduziu youtubers, e agora engloba também instagrammers e tiktokers. Um termo guarda-chuva engloba todos eles: começou com disseminadores, depois formadores de opinião e agora criadores de conteúdo. E em algum momento surgiu o termo summa cum laude: influenciadores.
Falar sobre influência perpassa um ecossistema complexo. Longe da ambição de abordar tudo, vou pegar apenas um ângulo e mesmo assim a gente tem muita coisa pra conversar, aqui, eu e você. Organizei em tópicos separados para mandar semanalmente, de modo que você pode ler 1 ignorar os outros se você estiver com preguiça (mas preguiça de conhecimento??? mesmo que talvez inútil??? ou que seja uma grande análise antropológica social???? sem preguiça, hein, controla a dopamina e a gratificação imediata!!!!).
Vamos à primeira questão: quanto vale um influenciador?
Da influ (apelido de influenciadora para os íntimos) gringa que falou que trabalha muito e só consegue parar às 17h (sonho) até a rotina de postagens da Vanessa Lopes, muito se fala sobre o quanto influenciadores trabalham. E assim, boto fé que sim, que é um saco usar tanto a própria imagem, que nunca pára, que tudo é conteúdo… mas esse discurso se respalda em uma necessidade de validação que advém da desvalorização desse tipo de profissão. Tá, você posta umas coisinhas, mas com o quê você trabalha de verdade? E é nessa defensiva que o discurso cai no absurdo.
Todo mundo trabalha muito: boa parte das profissões trabalham muito mais que influenciadores, outras têm responsabilidades gigantescas (médicas, enfermeiras, veterinárias, profissionais que lidam com a vida), e todas ganham menos. A grande diferença não é a quantidade do esforço, mas o retorno sobre o esforço.
A rotina da Vanessa Lopes parece ser hiper cansativa - eu precisaria de bastante esforço pra seguir. Mas ela explodiu em 2020 e atualmente sua fortuna derivada da internet se estima em 8 milhões. Se esforçar para esse ganho faz muito mais sentido do que para o salário mínimo de 2023 (R$ 1.302) ou para a média salarial brasileira (R$ 2.569), que mal conseguem pagar por casa, comida, água. Lazer? Conforto? Desenvolvimento intelectual? Não deveriam ser luxos, mas para a maior parte dos brasileiros é.
E aqui entre nós? Eu devo trabalhar igual ou mais que a Vanessa Lopes, tenho 5 vezes o tempo de carreira dela e quantos zeros precisariam cair para representar a mim ou a meus pares? Quem de nós terá um dia 8 milhões, mesmo com décadas e décadas de carreira?
Então… qual seria a questão de verdade? O quanto trabalham? O quanto é um trabalho legítimo? Ou talvez a discrepância de retorno para esse muito trabalho em relação ao resto da população? E, sim, eu conheço o """“capitalismo"""“: há muito $ de recompensa porque há muito $ revertido para empresas (outra longa conversa). Quando o ROI é alto, o investimento vale a pena. Justo?
Honestamente, não tenho respostas. Influência cai no mesmo nicho do mercado do entretenimento que atores, jogadores de futebol, cantores - famosos acumulam fortunas também. Então será que a crise que falamos hoje é sobre o mercado da influência mesmo? Ou sobre o costume de décadas de pagar fortunas para profissionais do entretenimento? De novo, sem respostas por aqui. Mas por aí, quanto vale um influenciador?
No meu TikTok… A estética da influência é de verdade?
Na próxima newsletter… por que odiamos #publi #ad #branded? pagar ou não pagar, eis a questão… do conteúdo patrocinado. Não é a primeira vez que falo sobre isso na internet - em 2018 escrevi para a CartaCapital após uma polêmica envolvendo a moralidade de publicidade no mercado cultural.
*Caso você queira ler contos, me avisa que posso começar com esse!
Fiquei curiosa com os contos. Tenho pensado muito sobre o conteúdo que consumimos e quem ganha com o que a gente passa a acreditar, concordar etc. Fiz um vídeo no meu instagram sobre isso (https://www.instagram.com/reel/CmbZiNCJ_VI/).
Curiosa para o próximo texto também! :D