alcateia #05, por que amamos e odiamos fãs?
Eu sou fã, sempre fui fã, e sempre serei fã - porque adoro ser fã, mesmo com os estigma de deslumbrada. Deixa eu com meu deslumbre, vai.
Eu sou fã, sempre fui fã, e sempre serei fã - porque adoro ser fã. Ainda assim, ser, admitir e se rotular como fã é visto como algo intrinsicamente negativo. (Quando falamos de mulheres, claro - não vou entrar no mérito da relação de homens com futebol em um paralelo perfeito que não encontra as mesmas reações.)
Segundo minhas extensas pesquisas (digitar “fã” na Wikipedia), a palavra vem do latim fanaticus e significa louco, entusiasta, inspirado por algum deus. Talvez daí a ideia de idolatria? Independente disso, a palavra fã ganhou no coloquialismo - e na página inicial do Google quando você busca pela palavra - um significado de admiração e interesse. E sendo altamente curiosa, me interesso por muitas coisas.
Mas ser fã é receber um carimbo automático de pessoa deslumbrada, cega e meio burra que parece não ter muito contato com a realidade. Às vezes isso é realmente verdade: quando a galera do Bling Ring passou a roubar celebridades para se aproximar delas, podemos dizer que o limite do ato de ser fã foi ultrapassado. Na mesma linha, Jia Tolentino escreveu para New Yorker um texto chamado “Amor, morte, e implorar para celebridades matarem você”, em que examina a tendência da geração Z de postar comentários como “Harry Styles por favor me atropele com um caminhão” ou “será que a Lana Del Rey poderia pisar na minha garganta”. E tem também fãs tipo a Uncarley que fez um vídeo dissecando as playlists que a Sally Rooney fez pro último livro, o que é menos mórbido porém igualmente obsessivo.
Então tá, até pode fazer sentido que o julgamento sobre essa atitude seja inerentemente negativo. Ainda assim, adoro declarar que sou fã - e sou de muita coisa. Sou fã da Karen Bachini, da ContraPoints, da Michaela Coel, de Coca Zero, da Luisa Sonza, da Lourandes, de Baer Mate, de blazer oversized, de série adolescente, da Pat McGraph, de Euphoria, da Skinceuticals, e essas foram só as primeiras coisas que passaram pela minha cabeça (e isso que eu nem falei de literatura). Mas, principalmente quando o nome admirado é brasileiro, sou encontrada com o questionamento: gostar ok, mas fã? De alguém tão próximo? (Mal sabem que sou a maior fã de todas as minhas amigas.)
No texto, Jia Tolentino reflete que “uma das conclusões é que jovens realmente amam celebridades. Outra é que estamos buscando conexões tão desesperadas que aceitaríamos até na forma de assassinato. E também é possível que simplesmente queiramos morrer”. Qual é a corda bamba do ser fã que pende às vezes para o adjetivo deslumbrado e outras para o suicida? Às vezes para o desesperado e outras para o reconheço-o-potencial? Às vezes para admiração e outras para inveja?
E ser fã também diz muito sobre nosso momento - os sacrifícios que fazemos por celebridades nunca são feitos por questões políticas ou por nós mesmas (mas tudo bem, se a gente se odeia e ama as celebs, é óbvio que vamos nos esforçar muito mais por essa galera). Os Instagrans de fofoca têm um público composto por milhões e até subcelebridades de reality shows pequenos ganham massas de seguidores (Stéfani Bays, você foi tudo no De Férias com o Ex - destaque pra briga com o Lipe, te defendo até o fim do mundo, gata). A celebridade tomou conta do lugar em que antes vivia a religião, e agora morremos e matamos por Taylor Swift (um avanço quem sabe????????).
Eu não manjo muito de Adorno, mas tenho a impressão que em algum momento ele alegou que ser fã tem algo de servidão, com comportamentos animalescos que se equivalem a fanáticos dos sistemas totalitários (ou isso ou ele só tava irritado com o jazz). Mas ele mesmo assinalou um fator importante: a comunidade. Ser fã é uma representação identitária, que ultrapassa barreiras demográficas e cria um lugar de pertencimento em uma realidade (talvez) cada vez mais isolada. E isso seria bom, certo? Ou errado? (Claramente não tenho opiniões, concordo com tudo.)
Dizer que se é fã parece deixar implícito que somos piores ou que almejamos exatamente aquele espaço - seja na forma de personificação ou de amizade. Outras vezes, parece indicar que o sujeito é quase uma linha de chegada. Apesar de tudo, suspeito que o julgamento surja de outro lugar: existe uma ingenuidade no ato de ser fã que gera desprezo - principalmente quando é acompanhada por um certo deslumbre que, apesar de tudo, costuma ser inofensivo. A inocência é rejeitada favorecendo uma lucidez sarcástica e crítica que pode fazer muito sentido.
Agora, eu amo ser fã (quer dizer, eu até escrevia fanfics de Harry Potter na adolescência) - o olhar carinhoso, a sensação de reconhecer talentos, a vontade de compartilhar coisas boas. Com um pouco de exagero na hora de se declarar fã (se eu me considero fã de tudo, será que sou realmente fã de algo?) e com otimismo (ew), é gostoso real.
Do que você é fã? Me conta, quero conhecer!
Sou fã de muitas coisas! Já fui fã de várias bandas (oasis, HIM, My Chem etc), de Harry Potter (eterno!), de filmes, de séries, tem tanta coisa boa por aí para se admirar. Prefiro muito mais essa posição do que esse movimento tão crescente da internet de atacar e cancelar. Gosto das comunidades que crescem juntos, e produzem juntos também.
Clarissa, te conheci pelo tiktok há uns 20 minutos, e acho que já vou virar sua fã! Esses dias tava comentando com uma amiga minha qur o Big Time Rush tinha voltado e tá fazendo uma tour, e como eles foram a primeira banda que eu fui fã. Depois deles, foram muitas bandas e artistas que fizeram uma revolução na minha vida por uns 2 anos, e depois ficaram guardados com carinho em algum canto da minha memória. Hoje eu sou fã de muitas coisas: Mitski, Led Zeppelin, Stevie Nicks, Fleetwood Mac, Taylor Swift, HIMYM, That 70's Show, cinema, Greta Gerwig, Richard Linklater, Ailton Krenak, Rita Lee, Declan Mckenna, história, enfim...
Costumo dizer que eu me vejo nos artistas que sou fã, acho que devo ter muitas faces, e eu até gosto disso, embora seja confuso e doloroso às vezes.
Amando seus textos! Já sou sua fã!